sexta-feira, 4 de março de 2011

Relato de um certo encontro: pequena narrativa sobre o dia em que estive com Milton Hatoum


   Era 7 de outubro de 2010 e o dia estava muito chuvoso. Havia um grande evento para acontecer na cidade de Alumínio: uma palestra do grande escritor Milton Hatoum.
   Eu precisava ir a esse evento, pois minha pesquisa científica se baseia na obra desse grande autor e então meu pai se prontificou a me levar até Alumínio. Como disse o dia estava chuvoso e, por incrível que pareça, exatamente aquele dia 7 foi o único em que choveu na semana toda.
   O evento estava marcado para acontecer às 15 horas na Biblioteca Pública e saímos de casa às 14 horas, quando um tempo depois percebi que meu pai não estava tomando o caminho para Alumínio, mas para o Carrefour do Campolim.Questionado sobre o desvio de caminho, ele me disse que precisava colocar gasolina no carro ou então ficaríamos no meio do caminho e essa foi uma resposta convincente, mas o fato é que nunca tínhamos ido para Alumínio e a fila de carros era extensa.
   Quando conseguimos abastecer o carro eram 14h30min e a chuva havia aumentado bastante de intensidade e meu pai propôs para deixarmos de ir naquele dia para irmos no dia seguinte, em Piedade, à outra palestra de Miltom, mas já estávamos na rua e resolvi que devíamos ir, pois quem sai na chuva é pra se molhar e nós já havíamos saído na chuva, então só faltava nos molharmos.
   Eu estava muito preocupado, pois faltava pouco para o inicio da palestra e estávamos ainda na estrada e nem sabíamos onde ficava a Biblioteca Pública de Alumínio. Quando chegamos à entrada da cidade resolvi perguntar a alguém onde ficava a Biblioteca e o rapaz que abordei disse que ficava logo em frente e para nossa sorte demoramos menos que eu esperava para achar a Biblioteca (eis a vantagem de o evento ocorrer em uma cidade extremamente pequena).
   Meu pai parou o carro em frente à entrada da Biblioteca e eu saí correndo, pois chovia muito. Entrei e perguntei à recepcionista:
   - Onde vai ser a palestra do escritor Milton Hatoum?
   - Será no auditório que fica no prédio ao lado, senhor.
   - Obrigado!
   Fui ao prédio do auditório e o encontrei sem dificuldade. Olhei para o relógio, vi 15 horas no visor e a palestra ainda não havia começado. Ufa! Cheguei a tempo! Enquanto o mestre de cerimônia apresentava o escritor, eu vi entrar e esperar na porta o Miltom e fui tomado de uma emoção grande, pois na área de Literatura, a maioria de nossos ídolos já está morta e infelizmente não podemos ter contato com eles.
   Na palestra, Milton começou falando das influências que teve na Literatura e que os autores que o levaram para as letras foram Gustave Flaubert e Graciliano Ramos e que o contato com esses autores foi feito através de sua professora quando ele tinha 15 anos. Depois ele criticou toda a literatura de massa, com ênfase nas de autoajuda e Paulo Coelho e também a influência da indústria cultural de massa dos EUA, que consegue penetrar facilmente na cultura dos outros países e só serve para a alienação.
   Houve crítica à política e Milton disse que falta o povo interpretar para votar bem, ou seja, falta visão crítica ao povo para que um “Tiririca” não possa ser eleito de novo, sem falar nos políticos corruptos e sujos. A cultura brasileira foi elevada e o escritor falou da Bossa Nova, de João Gilberto e disse que nossa cultura deve ser mais explorada.
   Em relação a seus livros, ele diz que em Dois Irmãos as personagens compartilham da visão de mundo do autor, que deu peso aos personagens secundários e que Omar tem ligação com Tio Ran (de Cinzas do Norte) e ainda falou sobre personagens planas e redondas citando o livro Como funciona a ficção de James Wood. Em relato de Um Certo Oriente diz que teve inspiração na infância, pois o avô era um bom contador de histórias e o personagem que mais emocionou Milton foi Halim, pois a morte do pai do autor era recente e a ligação entre Halim e o pai era presente.
   Quando terminou a palestra, fui ao encontro de Milton, falei sobre a pesquisa que estou fazendo sobre sua obra e as leituras de seus livros e ainda tirei uma foto para registrar o grande momento. Na volta para casa a chuva não cessava e meu pai e eu ficamos desde 17 horas (horário do término da palestra) até às 20 horas tentado voltar para casa, pois o trânsito na cidade de Sorocaba já está se tornando insuportável, mas fora os pequenos contratempos tive uma grande experiência cultural e ainda consegui contato com um grande ídolo e uma realidade da nossa excelência literária e que levará o nome Brasil muito longe!

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